29 de julho de 2009

Destrocho VIP - Vale do Lobo


TS. ELIOT
Os homens Ocos - 1925
I
Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada.
Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;
Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.
II
Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.
Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo-
Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular
III
Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.
E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trêmulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.
IV
Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos
Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio
Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.
V
Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada
Entre a idéia
E a realidade
Entre o movimento
E a ação
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a Sombra
A vida é muito longa
Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o mundo.
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.

20 de julho de 2009

Documentar o não lugar






E isso que importa?
Portugueses que desbundam na desgraça, como musgo incrustados nas telhas e muros, destroços mas portentos de tradição e poesia concreta. Aqui ao Ti António Feliciano ficou prometido um documentário, mas primeiro tenho de ir ao bruxo.

14 de julho de 2009

Ruínas




Na competição internacional do FIDMarseille
“Ruínas” de Manuel Mozos distinguido com Prémio Georges de Beauregard
14.07.2009 - 16h13 PÚBLICO
“Ruínas”, do realizador Manuel Mozos, foi distinguido no FIDMarseille - Festival Internacional do Documentário de Marselha com o Prémio Georges de Beauregard. Esta é a segunda distinção que o documentário recebe, depois do Prémio TOBIS para Melhor Longa-Metragem Portuguesa atribuído no IndieLisboa, em Maio.“Ruínas” é um documentário experimental sobre uma série de edifícios e construções abandonadas. Numa curta entrevista ao Ípsilon, em Abril, Manuel Mozos disse que a ideia na origem do projecto "já vinha de trás: fazer uma colagem de textos com imagens, com uma série de locais que gostaria de filmar". O realizador contou que "sabia à partida que ia ser uma espécie de work-in-progress, que só começaria realmente a existir na montagem". Em "Ruínas", o realizador não quis pegar pelo lado nostálgico que poderia ser esperado neste documentário, mas antes "deixar o espectador fazer o seu próprio filme".

Já trabalhei com o Mozos, um grande cineasta.
Há uns quantos anos atrás andamos juntos a fazer o José Cardoso Pires. Nessa altura veio-me à cabeça fazer um documentário com buganvilias e vozes de escritores.
Agora eu próprio me esborouo neste marasmo de situação.

9 de julho de 2009

Contra o destrocho, marchar, marchar!

Manhã quente de final de Junho, dia 20. Cerca de 50 pessoas juntaram-se para um passeio à descoberta da natureza, a convite do Movimento de Defesa do Pontal.

Dividida entre os concelhos de Faro e Loulé, a mata do Pontal constitui uma das maiores manchas florestais de pinhal do litoral algarvio, e a maior do concelho de Faro.

Aqui vivem várias espécies em perigo de extinção como a Tuberaria major – planta de vida efémera cuja maioria da escassa população a nível mundial cresce nesta zona.

E também o camaleão (Chamaeleo chamaeleon) pode aqui ser visto. Mas é favor não chatear muito os bichos, que já têm problemas suficientes na vida.

Capacetes, extintores, motores e rastos de pneus testemunham a forma selvagem como alguns praticantes de todo-o-terreno e desportos motorizados destroem tudo à sua passagem.

Esta zona é também casa de uma empresa de reciclagem de plásticos que aqui encontrou as condições ideiais para o negócio.

No Pontal não falta espaço para armazenar porcaria, lixo e entulho.

Ao fundo a serra, ao perto, a merda.

"É proíbido fotografar", grita uma senhora lá de dentro. Proibido, proibido, proibido!



É pena, porque um paisagem tão bonita, um parque natural tão natural, merece um momento kodak digital... para mais tarde lamentar.

Um projecto de interesse nacional poderia colocar aqui uma linda urbanização de seis estrelas para turismo de qualidade e criar um monte (de igual dimensão) de empregos (de igual valor) e assim requalificar esta zona que todos queremos melhor.

Ao Sábado de manhã, também se trabalha. Parafraseando o meu velho ídolo Dave Mustain "Entulho is my business and the business is good".

Montanha de plástico a caminho do céu. O objectivo é entrar para o livro algarvio das tristezas na paisagem, publicação a editar em breve pelos promotores/ editores deste lindo blog de promoção turística e cultural para vender no Supermercado «Apolónia» (que é ali perto) e aos vizinhos da Quinta do Lago/ Vale do Lobo.

Entulho, sacos plásticos e toda uma infinidade de objectos nunca biodegradáveis e degradantes (como um cemitério de pára-choques) crescem praticamente debaixo de cada árvore (na verdade, não há assim muitas árvores).

É assim o Pontal, lindo!

6 de julho de 2009

A Rocha






Um paraíso em desconstrução, a Praia da Rocha renova-se e aniquila-se ao mesmo ritmo, cresce em vertigem para não ter que ver o desmazelo rasteiro, o exagero foleiro, a proliferação de bimbalhice atabalhoada, os efeitos desanimadores da crise. Flor da Rocha, etc. da Rocha, Club NhoNho da Rocha por aí fora, mas urbanismo e graça não existem, um parque decente para turistas e residentes nem pensar. Viva o progresso burgesso!
A voz ao Carlinhos:
E ao Bloco: