1 de março de 2010

O Delfim

«Sem memórias não existiria a escrita: o peso específico de que uma imagem ou uma frase necessitam para atingirem o leitor só pode advir da lembrança das coisas - não de ontem, mas de há muito tempo.»

«"Estás aqui estás a atirar-me com o Sócrates. Com o Xenofonte, quero eu dizer. Há uma data de dias que não falas no Xenofonte."

"Pior para ti, porque era de facto um grande caçador."
"Pois. E um grande escritor, ensinaram-me no liceu."
"Repórter de guerra", vou eu continuando.
"Militar..."
"Filósofo-guerreiro. Um valente, um grande, um etc. etc. filósofo guerreiro."
"Tu é que sabes. Tu é que és escritor. Positivamente."
"Obrigado. Em meu nome e em nome de Xenofonte..."
"...Que era um gozador dos antigos", completa Tomás Manuel.
"E Era. Escrevia sobre a vida com um prazer que nem podes imaginar."
"E sobre a morte."
"Já dissemos. Se era um repórter de guerra escrevia sobre a morte."
"Desculpa, tinha-me esquecido", torna o meu companheiro. "Política? Não escreveu também sobre política?"
"Claro. Sobre política, sobre educação dos príncipes..."» (p. 83 de O Delfim de José Cardoso Pires).

http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/letras/ensaio12.htm

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